Perguntaram a um miúdo, um traquina de 6 anos, o que gostaria de ser quando crescesse. Ele respondeu sem hesitar:
– Eu quero de ser idoso!
Ao ser inquirido sobre o porquê dessa ideia tão fora do comum, ele explicou:
– Porque os idosos podem muito, eles sabem escutar, sabem compreender e reúnem toda a família nas festas principais.
E eu fico a pensar que se é assim como este miúdo diz, eu também gostaria de ser idoso para ter uma missão tão ilustre: escutar, compreender e reunir.
Em primeiro lugar o poder de escutar. Os idosos escutam. Eles têm tempo. Se aposentados, o seu ritmo de vida diminui e enquanto os filhos trabalham eles ficam disponíveis. Sabem escutar porque caminham sem pressas, falam tranquilamente. Saboreiam as perguntas das crianças, compartilham as suas alegrias, ouvem as suas queixas e tristezas, mágoas e injustiças.
Em segundo lugar, os idosos sabem compreender. A discrição de um idoso é capaz de guardar as aventuras das crianças, os segredos dos adolescentes, as aventuras dos jovens, os fracassos dos adultos, as confidências de todos… Os outros são a lei, os idosos são o sonho. Eles são muitas vezes um espaço de tolerância e aceitação, capazes de compreender tudo e todos, ou porque já passaram por situações idênticas ou porque precisam também de compreensão.
Finalmente, os idosos reúnem a família. As suas casas são locais encantados onde ocorrem as celebrações natalícias, a Páscoa, as passagens de ano… lugares onde se saboreiam pratos diferentes, ritos especiais, encontros amenos. Hoje em dia, estas reuniões tornam-se cada vez mais raras e difíceis, com as famílias nucleares e os seus infinitos afazeres. Mas uma família numerosa é um dom, pois permite aos mais novos tomar consciência das suas raízes e ligações, participar de uma memória comunitária, solidariedade nas dificuldades e momentos difíceis. Os idosos têm a graça de manterem – até onde é possível – os laços familiares. Às vezes só se percebe isto, quando eles não estão mais aqui. Mas o contacto com os idosos é uma marca para o resto da vida.
É evidente que existem também idosos isolados e segregados. Mas para a maioria deles, escutar, compreender e ser um laço de união não deixa de ser uma nobre missão. Ao contrário do que muitos pensam, os idosos podem muito e a sociedade precisa deles.
E ao terminar, não posso deixar de acrescentar: no campo espiritual os idosos têm também um poder determinante. São os idosos que ajudam os mais novos nas suas buscas de Deus. São eles que, que rezando, lhes ensinam as primeiras orações, lhes contam a histórias da Sagrada Escritura, os levam à igreja a conviver com o divino, partilham com eles, através do exemplo, os valores cristãos.
Obrigado, ó gente da “terceira idade”, pelo grande tributo que dás à nossa sociedade! Que nunca percam este grande poder!
Quando eu for mais velho quero ser como vós.
David Quintal